Os nossos amigos
O dia 31 de Julho amanheceu com nevoeiro e com chuva miudinha que incomoda mais do que molha. Para o pico de Verão era um dia atípico, talvez um prenúncio da natureza para a tragédia que nesse dia se iria desenrolar...
Ainda me custa recordar o que naquele dia se passou nos meus campos, a terrível dor que atingiu todos os meus habitantes em especial a família do meu querido amigo Serafim Unhão. A morte é sempre traumatizante, em especial para os entes queridos mas quando é por doença ou com idade avançada, geralmente é algo para o qual nos vamos preparando e absorvendo progressivamente. Mas neste dia fatídico a morte veio sem aviso e tomou de assalto todos os meus filhos, em especial os que presenciaram o seu triste desenlace em primeira mão.
O que sucedeu? Essa é uma pergunta para sempre sem resposta, apenas poderemos relatar que um acidente inesperado levou o nosso querido amigo. Afinal um acidente, não é mais que a junção de um conjunto de circunstâncias que conjugadas originam um determinado desfecho. Se não tivesse chovido e o nevoeiro fosse tão cerrado, será que as coisas teriam sido diferentes? Se fosse um típico dia de Verão será que alguém teria ouvido ou visto algo, quando estivesse nas suas lides fora de casa? São questões que para sempre estarão no nosso coração... Apenas uma certeza tenho: eu hoje estou mais pobre e mais só!
O meu querido amigo Serafim, era o homem dos sete ofícios, trabalhador incansável percorria os montes e as aldeias, com a sua mala de barbeiro para cortar cabelos e barbas. Foi igualmente resineiro e esta é talvez a profissão que melhor o definia, um homem forte que percorria as matas com a lata nas costas enquanto retirava a resina dos pinheiros. Conhecia os meus campos como ninguém e tratava todo o tipo de agricultura e animais por tu, para ele este tipo de trabalhos não tinha segredos. Com ele morre uma parte de mim... Garanto que vou sentir muito a sua falta e lamento profundamente que a relva e mato tomem conta dos meus campos outrora cultivados...
Não posso deixar de dirigir os meus sinceros pêsames à D. Ilda (mulher do Sr. Serafim) e família, nada poderei no entanto dizer para mitigar a sua dor, porque quando este tipo de acontecimentos nos atinge nada diminui a tristeza e até mesmo o desespero que nos invade... Apenas Deus e o passar do tempo os poderão ajudar! No entanto quero deixar claro que contam com a amizade de todos os que os conhecem e de modo especial de todos os goulinhenses.
Esperemos por dias mais felizes... e para ti amigo que partiste... Adeus e até sempre!