Os nossos amigos
Sim, é verdade já nem as minhas barbas brancas respeitam! Sou tão velhinho… já deviam de ter mais respeito pela minha idade. Vou-vos contar o que me fizeram e que me deixaram (como hoje se diz) “pior que estragado”.
Então lá vai… Tomem bem nota daquilo que me fizeram: foi já no passado mês de Março ao ouvir um barulho estranho para os lados do Seladinho ou seja ao cimo do Outeiro com as minhas poucas forças lá peguei na bengala (porque as pernas já não ajudam) e lá vou ver o que se passava. Eu nem queria acreditar no que os meus olhos viam: uma máquina da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital (aquela a quem o meu povo paga os seus impostos) estava a esburacar a rua que vem do Casal Cimeiro para o Outeiro com destino á Rua da Capela (do meu querido São Paulo). Segundo o que manobrador da máquina disse era para substituir a conduta de água que ia para a nossa sede de Freguesia Aldeia das Dez. Não pude acreditar e perguntei quem tinha dado tal ordem para nos estragarem o alcatrão e o empedrado que a minha gente com tanto sacrifício mandou arranjar, com o dinheiro que recebeu dos compartes ou seja dos pinheiros queimados do incêndio que por aqui passou já lá vai alguns vinte anos. Acrescentei ainda: “O senhor acha bem o que está a fazer?” ao que o manobrador da máquina me respondeu “Meu caro senhor, o senhor pode ter muita razão mas este é o meu trabalho só recebo ordens…” ai eu perguntei quem lhe deu essa ordem ao que ele disse “Meu senhor estou a trabalhar por ordem da Câmara Municipal”. Fiquei tão mal disposto e chocado que a minha cara deve ter mudado de tal forma que o homem da máquina desceu da mesma e abraçou-me dizendo “Não se enerve! O senhor já tem muita idade é preciso ter cuidado” respondi de imediato “O senhor tem razão nem eu já sei os anos que tenho, mas seja em que época ou idade, isto não deixa de ser uma falta de respeito.” O que me leva a contar estas coisas é que já lá vão nove meses e tudo o que me estragaram ainda não está reparado. Será isto correcto? Eu acho que não. Tem que haver respeito pelo meu povo que já comeu pó e nem as janelas eles podiam abrir coitados. Para me visitarem já andaram na lama e agora andam pelos buracos que as últimas chuvas abriram… Estou mesmo revoltado! Dizem que os meus filhos criaram uma associação para me desenvolver, para me porem mais bonito, como quem diz aparar as minhas barbas mas o que é verdade é que eu ainda não vi nem senti nada. Tenho é reparado nas obras que andam a fazer na estrada que passa junto aos meus pés, tenho estado atento e tenho reparado que há algumas coisas que na minha maneira de ver não vão ficar como eu gostaria… Isto no que eu posso ver aqui nas minhas barbas porque para mais longe não posso ir que as minhas pernas já não ajudam mas de qualquer maneira já está melhor e os meus filhos também já mereciam ter esta melhoria. Quanto ao que anteriormente eu estava a falar será que quem está lá na Câmara a mandar não sabe como deixou estes caminhos? Dizem que esse senhor é professor ? Será? Se é , não parece… Dizem que se chama Alexandrino.
Então eu digo Sr. Alexandrino: nunca ouviu dizer que quem estraga velho paga novo? É o que o senhor tem que fazer… o meu povo tinha as ruas arranjadas sem que o senhor ou outros que já por ai passaram tivessem contribuído com um tostão para as pôr tal como o meu povo as tinha. É no mínimo o seu dever, se o não fizer os seus alunos quando souberem não vão gostar então o senhor andou-lhe a ensinar boas maneiras e o senhor não as cumpre? Olhe que isso é muito feio e é muito mau exemplo!
Meu caro Sr. Alexandrino, tenha respeito mim, por este Goulinho que é já muito velhinho com barbas brancas e compridas e mande por favor que é assim que se fala cá na terra arranjar estas duas ruas onde os carros até já evitam de passar. Mostre aos seus alunos que o Sr. também faz aquilo que lhes ensinou, se é que o fez… A saber: respeitar os outros sendo velhos ou novos.
Grato pela atenção.
O Goulinho