Os nossos amigos
Inicio do Santuário no Vale de Maceira - I
Quando se deu a mudança para o lugar que ocupa hoje?
O grande e saudoso mestre que foi o Dr. António de Vasconcelos diz que foi no século XVIII mas em que altura? Frei Agostinho na obra que publicou em 1712,já se refere á mudança. Mais: diz ele que com as muitas maravilhas que operava foi crescendo dia a dia a devoção nos povos e assim resolveram os devotos a que se lhe edificasse uma casa muito grande (é a que hoje temos) e capaz de entrarem todos. Mais adiante fala de muitas casas de romagem, onde os devotos e peregrinos descansam e de várias capelas da Paixão e de como já tinham descoberto água e feito um formoso chafariz de pedra.
Ora, como nota o Sr. Augusto Cide estas obras não se fazem de um jacto, mas levam anos, o que faz supor que a transferência se teria dado já no século XVII ou pelo menos no principio do século XVIII.
Se, porém, examinarmos os restos arqueológicos ainda existentes, concluiremos que de facto o Santuário já existe desde o século XVII Com efeito por cima duma porta da casa do púlpito, que deve ter sido das primeiras a construir lê-se a seguinte inscrição: 1673 a 15 de Maio e noutra porta da mesma casa, outra data ainda mais antiga 1662. Na actual igreja de Nossa Senhora das Preces há uma capela lateral dedicada à Nossa Senhora da Boa Morte que tem uma janela chanfrada interior e exteriormente; contígua a essa capela há uma pequena sacristia com outra janela semelhante. A pequena sacristia serve hoje apenas de passagem para o púlpito. Isto leva a concluir que ali deve de ter sido a primeira capela do Santuário de Nossa Senhora das Preces antes da construção da actual igreja. Ao construírem esta devem ter demolido o corpo da primeira, deixando apenas a capela mor e a sacristia.
A capela estava orientada com a porta virada para poente. Depois para poderem construir um templo mais comprido tiveram de lhe mudar a orientação, pois doutra forma não havia espaço. Desde então a história das modificações que se fizeram naquele hoje tão aprazível lugar daria um belo capitulo de geografia humana.
Segundo o cadastro da Beira, mandado fazer por D.João III em 1527 o Vale de Maceira tinha então 5 fogos. Era um pequeno casal era assim o Vale de Maceira antes da benção da Senhora das Preces. Mas desde que ela desceu lá do monte do Colcurinho para este lugar os peregrinos afluíram de perto e de longe tornando-se uma das maiores romarias de toda a Beira. Se Portugal é um jardim á beira mar plantado, as terras lindas da Beira são o jardim de Portugal plantado no seu próprio coração e o Santuário é o mais viçoso e lindo canteiro a que a natureza bafejou estas paisagens serranas com o perfume da cristandade. Santuário situado na serra do Açor dali avistam-se grandes horizontes sendo um dos grandes mirantes da serra. Os devotos podem ver de longe as capelinhas brancas espalhadas pelo monte e pedir à Mãe do Céu o alivio para as suas dores remédio para os seus males conforto para os seus corações. E a Virgem que nunca deixa de atender a quem a ela recorre faz então descer do céu a chuva das suas graças. Estamos convencidos de que o Santuário da Senhora das Preces deve ter contribuído como centro de irradiação da fé cristã na vida dos povos da Beira. Os quatro confessionários que existem na capela não devem ter estado muito tempo vazios durante as peregrinações. Por ali devem na época ter passado sacerdotes ilustres que souberam dar aos fieis formação religiosa. Com a onda de liberalismo que, vindo de França assolou Portugal; com a extinção das Ordens religiosas e com a decadência dos bons costumes, a vida religiosa do Santuário decaiu imenso, dando lugar a grandes esbanjamentos das esmolas e aos arraiais espalhafatosos e barulhentos, muito caros e pouco proveitosos. O Padre Paulo da Fonseca que era natural do Goulinho e foi prior de Aldeia das Dez pediu em 1788 ao Sumo Pontífice a concessão de várias indulgências. Sua Santidade, o Papa Pio VI, concedeu indulgencia plena a todos os fieis cristãos que, arrependidos, tendo-se confessado e comungado, na visita á Senhora das Preces no dia do Espirito Santo, ou noutro dia designado pelo Ordinário. Ainda hoje nos dias de festa muitos peregrinos se confessam e comungam para ganharem estas Indulgências.