Hoje ao acordar decidi contar a história do Santuário de Nossa Senhora das Preces, para os mais novos (e não só) penso ser de bastante interesse. Vai ser contado em episódios pois história tão rica não se resume num só dia…
I - A Capela da Nossa Senhora das Necessidades
Desde as mais remotas eras da nacionalidade portuguesa se começaram a erguer igrejas e capelas dedicadas à Virgem Mãe de Deus.
À medida que se conquistava aos mouros o solo desta faixa ocidental da península, começavam a cavar-se os alicerces e levantar-se as paredes de grandes templos, como a igreja de Santa Maria de Alcobaça, a Catedral de Santa Maria de Coimbra,e tantas outras. Mas não era só nas cidades e terras populosas. Também nas aldeias e vilas da beira, nas margens do rio ou no alto dos montes se levantavam, pouco a pouco, igrejas e ermidas.Com o andar do tempo, o seu número foi aumentando. Arganil fundou o Santuário do Monte Alto; Côja construiu a capela de Nossa Senhora das Neves ;Vila Cova, a igreja Matriz, dedicada a Nossa Senhora da Natividade; Avô dedica à Virgem a sua igreja Matriz e a ermida de Nossa Senhora do Mosteiro; São Romão funda o Santuário de Nossa Senhora do Desterro; Aldeia das Dez levanta no Alto do Colcurinho (este nome segundo alguns provêm de um general romano que ai se teria instalado) e depois no Vale de Maceira o Santuário de Nossa Senhora das Preces. Todos estes Santuários ficam na margem ou à vista do rio Alva o que levou certo autor a chamar-lhe o rio sagrado (Vide -- José Leite de Vasconcelos, Etnografia Portuguesa,Vol.ii,pag.16). Qual foi a origem do Santuário de Nossa Senhora das Preces? Qual a sua história através dos tempos? Eis as perguntas a que pretendemos dar uma resposta, na medida dos poucos elementos que conseguimos obter. Todos os autores que se têm referido ao Santuário dizem que ele é frequentadíssimo de romeiros, e um dos mais afamados de toda a Beira, mas nenhum aponta a data da sua origem. Ora numa fria manhã de inverno, os autores do estudo em que me vou basear empreenderam a ascensão do monte do Colcurinho. Passaram no Vale de Maceira, ao lado do Santuário, e foram subindo encosta acima pelo caminho dos devotos peregrinos que lá vão nos dias de romaria e no regresso cantam:
Nossa Senhora das Preces
O vosso altar é de fitas
A Senhora do Cabeço
Manda-vos muitas visitas.
A subida é um tanto difícil, pois o cabeço é elevado (1242 metros), e o caminho íngreme e áspero. Mas por fim chegamaram ao alto. Lá está a capelinha de Nossa Senhora das Necessidades, no lugar onde esteve a primitiva de Nossa Senhora das Preces. É uma ermida simples, com sua porta virada ao poente, ladeada por duas frestas; com seu altar, com sua imagem bastante cuidada. Tinham sido informados que existia ali um castro ou castelo. Procuraram os vestígios, e efectivamente lá se conhecem ainda os alicerces de duas paredes paralelas á capelinha. Mas o que mais lhes despertou a curiosidade foi o Cruzeiro que se encontra ao lado da capela e as inscrições que nele estão gravadas. O cruzeiro é recente. Na base rectangular tem os seguintes dizeres: (na face da nossa direita) substituída em 1925; (na face da esquerda); pelo Presidente M.L.F..; (na frente); Apareceu aqui N.Sª das Preces ano de 1371.Vê-se pela inscrição que existiu ali outro cruzeiro, o qual, tendo-se desmantelado, foi substituído pelo actual e que houve o cuidado de copiar a inscrição do primeiro. Mais, o benemérito presidente da irmandade de Nossa Senhora das Preces, Manuel Lourenço Fernandes, que mandou fazer o actual cruzeiro, teve ainda o cuidado de conservar a antiga inscrição, encostando-a no muro ao lado do cruzeiro. Essa pequena pedra mutilada, pelo tempo, é o mais antigo documento escrito acerca do Santuário de Nossa Senhora das Preces. Observando-se o desenho verificamos que não foi copiada fielmente para o novo cruzeiro a inscrição primitiva, a qual dizia: Neste lugar apareceu N.Srª das Preças no ano de 1371. Na copia, o sentido ficou o mesmo, apenas mudando Pressas em preses (por Preces). De quando data a inscrição? Não se poderá saber ao certo, mas não é anterior ao século XVI, nem provavelmente posterior ao XVII, que não é anterior ao século XVI vê-se pelo tipo da letra empregue.
Bem por hoje ficamos por aqui… Mas não se preocupem que a saga continua!