Hoje ao acordar, indolentemente deitado nestes montes verdejantes onde estou, senti o abraço fraternal do sol que revitaliza as minhas encostas, casas e habitantes! Finalmente um pouco de calor após chuva, vento, frio e neve... Afinal os anos vão passando e os raios de sol nestas velhas encostas fazem renascer nova vida e animar a própria natureza.
Em dias como este, por vezes recordo o passado cheio de vida e trabalho e penso no futuro... O que me aguarda? Não sei, é difícil o nosso destino depender da vontade de outrem, sermos meros espectadores da nossa decadência e lenta desertificação. O que mais me entristece e deixa até por vezes revoltado, é ver tantas casas desabitadas e a ficarem cada vez mais degradadas chegando à beira da ruína... Porquê? Pergunto-me eu incessantemente! Se já é mau algumas pessoas simplesmente esquecerem as suas raízes e partirem, parece-me que muitos dos filhos e netos simplesmente não sentem qualquer apego a mim ou ao legado que lhes foi deixado. Esse sentimento é completamente legítimo, afinal gostar de uma terra é algo quase que inato, não se pode forçar, simplesmente sente-se e é quase como a fé, ou seja, um dom de Deus... Mas se não gostam, não querem, não preservam, não lhes interessa, porque não vendem? Porque não permitem que outros possam usufruir de algo que para eles lhes é indiferente, um fardo, algo de supérfluo? Só para poderem dizer aos amigos que até têm muitos terrenos e uma casa "lá na terra" (pena que não lhes expliquem que está a cair e que nunca lá vão)? Ou para manter as aparências perante as pessoas da aldeia? Ou simplesmente porque acham que possuem uma mina de ouro e que algum dia vai aparecer um milionário e oferecer quantias exorbitantes as quais eles estão convictos que valem os seus bens, sem pensarem que com o passar do tempo e desleixo se vão desvalorizando?
Sinceramente não entendo, porque se agarram a algo que não querem e não estimam, sem sequer terem a consciência que contribuem com este tipo de atitudes para a desertificação e atraso que me atinge e simultaneamente para a progressiva desvalorização dos seus bens, porque não sei se eles se apercebem que numa aldeia fantasma poucos querem viver ou tão pouco investir!
Isto sem falar nos terrenos... Não os vendem, agarram-se a eles como um cão a um osso... mas quantos ainda saberão quais são os limites dos seus terrenos, onde estão os marcos, como é que lá chegam, no meio de um matagal que se transformaram os montes ao meu redor? De que serve ter "algo" numa aldeia onde já não existe nada nem ninguém? Agarram-se às coisas, mas sem qualquer objectivo prático ou racional, simplesmente porque sim... Lamento esta mentalidade e quando se queixam que eu estou a ficar sem habitantes, pensem nas razões porque tal acontece! Não esperem soluções dos outros e que um milagre aconteça, pensem antes no que podem fazer para me reabilitar como aldeia!
Eu preciso de sangue novo, de pessoas de fora que se estabeleçam aqui… Novas ideias e formas de pensar, não condicionadas pelo que os “outros” pensam, pelo “antes era assim” pela estratificação definida e aceite universalmente como correcta… As preocupações com coisas muitas vezes insignificantes num contexto global, tomam dimensões exageradas e a necessidade de validação externa levam a que aquilo que deveria ser decidido em prol dos meus interesses em tempo útil, seja minado pelas burocracias e pelos pormenores, levando a que tudo fique igual e nada nunca seja decidido e evolua.
Desculpem os desabafos de um velho, cansado de ver o tempo a passar, de ouvir muitas palavras e pouca acção! Tomem nas vossas mãos as rédeas do futuro, tal como disse Jonh F. Kennedy “Não penses no que o teu país pode fazer por ti mas sim no que tu podes fazer pelo teu país.”