Os nossos amigos
Hoje de manhã, fui dar uma volta pelas ruas da Bobadela, terra que me acolheu já há vinte cinco anos, encontro um amigo, bom dia, então como vai a família, enfim cumprimentos da praxe, conversa, puxa conversa, e lá vamos cair naquilo que toda a gente fala, o País, a crise qual vai ser o futuro, respondo, pois é ninguém sabe responder, mas para melhor não iremos, este mal vai demorar muitos anos a curar.
Responde o meu amigo: “Hoje toda a gente se queixa, no nosso tempo a vida era muito pior, e nós fomos vivendo com muitos sacrifícios, e não protestávamos, hoje, toda a gente protesta por tudo e por nada, olhe, eu bem novo, com catorze anos, já andava com uma lata ás costas a resinar pinhal com o meu Pai, mal eu podia com a lata vazia, era vida dura, mas não morri, hoje rapazinhos com dezoito, e vinte anos, nada sabem fazer, e muitos até nem querem, os pais é que os governam, esperamos que melhores dias venham …olhe, até mais logo, o senhor tem para onde ir, e eu também.” e a conversa ficou por aqui.
Vim para casa, e a conversa vinha na minha cabeça, ou seja, a história de vida de resineiros que eu no meu Goulinho, tive a oportunidade de ver, a difícil vida , desses valentes homens.
Levantavam-se ainda o sol não tinha nascido, metiam os pés ao caminho, de lata ao ombro, raspa na mão, levando ou não estacas, bicas ou púcaros de barro, ( mais tarde vieram de plástico ) mas sempre prontos a dar cabo da fatiota pelo ácido que botavam nas sangrias, só a lata vazia, e o peso da mesma, já era um desconforto .
Levavam preso à cintura um saco de pano com uma bucha para comerem no meio da mata o sitio escolhido era sempre junto de um nascente de água ou junto de um ribeiro para beberem a água fresca.
Comendo o que o diabo amassou, é de dar graças a Deus, serem livres de grandes quedas, pois passavam por grandes penhascos, e fragas , eram uns verdadeiros fura moiteiras, percorrendo caminhos de cabras, passando no meio das silvas e do mato da altura de um homem. Admiro o saber daqueles homens, que corriam de pinheiro, em pinheiro, sem falhar um pinheiro.
Vi muitas vezes pela hora do calor, o nosso amigo Serafim, com um pau aos ombros, e duas latas cheias de resina, de cada lado, homem forte, poucos faziam esta aventura.
A resina era vazada em barris, estrategicamente colocados, à beira dos caminhos florestais, para serem recolhidos por carros de bois, lembro-me do senhor Cipriano, fazer esse transporte, para o sitio chamado o Vale, frente ao Goulinho junto da fonte velha, dai era carregado em camionetas para as várias fabricas de transformação de resina.
Havia pinhais, que rebentavam com qualquer resineiro, por exemplo os pinhais da Barroqueira, do Maroucho, da Cavadinha, nestes era sempre a subir, com a lata ao ombro, até chegar á estrada.
Hoje os pinhais existem, não são resinados, não sei se por falta de pessoal, que queira fazer este tipo de trabalho, ou será, que a resina não tem o valor dos tempos passados?
Este texto serve de homenagem àquele que foi um grande resineiro no Goulinho o saudoso Serafim.
A vida de resineiro
É uma vida amargurada
De pinheiro em pinheiro
Não encontra a sua amada