Os nossos amigos
E o Goulinho tem uma linda história: a riqueza e a pureza das suas gentes. Este é o blog que construi para divulgar a tenacidade, a luta, deste povo serrano, que muito se orgulha, do passado das suas gentes com confiança no futuro.
A vida dura dos Goulinhenses, nos meus tempos de criança, as gentes desta e outras aldeias serranas, alimentavam-se dos produtos que com muito sacrifício retiravam das terras que cultivavam tais como: batatas, cebolas, couves, nabos, pimentos, alfaces, tomates, feijão frade, feijão verde e outras qualidades de feijão (manteiga, catarino, etc.) centeio e milho sendo estes cereais os mais cultivados pois era com eles que se fazia o pão.
Todas as terras eram amanhadas desde o maior prado ao mais minúsculo pedaço de terra que desse para produzir qualquer produto.
Havia árvores de fruto plantadas pelos nossos avós, já velhinhas mas fazia-se todo o possível para as conservar até por representem sentimentalmente os que já tinham partido e outras mais novas já plantadas pelos nossos pais.
As videiras eram plantadas à beira dos combaros umas de estaca outras compradas nas feiras da região. Tínhamos as oliveiras tratadas com algum brio eram cavadas todos os anos. Tratava-se de uma árvore muito estimada graças ao seu maravilhoso fruto que nos dava o azeite para governo da casa durante o ano. Era escolhida a azeitona mais graúda que depois de curtida ficava em conserva num cântaro de barro para se ir comendo com uma fatia de broa.
Dava gosto ver nos meses de Março e Abril e Maio (nos campos mais regadios) nos chamados "prados" grupos de homens e mulheres a trabalharem as terras quase todas cavadas à mão. Faziam grupos de três ou quatro, em terrenos maiores podiam ser de seis pessoas que em linha viravam a terra, por vezes à ordem de um mandador. Quase sempre havia mulheres no meio por terem menos força, sendo que em termos monetários ganhavam metade do ordenado de um homem.
Quase todas as famílias criavam o porco que era morto no mês de Novembro ou Dezembro. Das suas carnes eram feitos os enchidos que eram secos no fumeiro ou seja na cozinha da casa, mais propriamente por cima da lareira.
Era na lareira onde à noite se reunia a família que havia troca de ideias dos mais variados assuntos. Rezava-se o terço, lia-se o jornal o Amigo do Povo ou a Voz do Santuário (jornal editado pelo Santuário de Nossa Senhora das Preces) cujo director era o Sr. Padre Mário Oliveira de Brito enquanto as raparigas faziam renda para o seu enxoval.
Quem não se lembra do encontro de rapazes e raparigas que era feito nas noites de verão no banco da Tia do Covão ou no balcão da Tia Surreição?
As crianças mais pequenas iam todos os dias à escola no Vale de Maceira, umas calçadas, outras descalças com um vestuário muito pobre. Quando chovia levavam uma saca a servir de capucha, saca essa que tinha servido para transportar as batatas de semente que vinham de Montalegre.
Na escola o inverno era duro… A senhora professora acendia uma braseira já com brasas que levava da sua casa íamos aquecer as mãos um ou dois de cada vez outras vezes não eram aquecidas na braseira eram aquecidas com a “menina-de-cinco-olhos” - a régua - que de vez em quando era roubada à professora e deitada para uma silveira que havia nas traseiras da escola.
Estou-me a lembrar das crianças que no inverno com neve e chuva vinham da Gramaça e que chegavam à escola todas molhadas… No intervalo das aulas as crianças recorriam aos moradores de Vale de Maceira para secarem a roupa. Estou-me a lembrar de uma senhora que nós chamava-mos de tia Encarnação, boa senhora que nos secava a roupa e nos dava uma malga de sopa, atenção que outras pessoas também o faziam não vou mencionar o nome de todas porque eram muitas! Por mim que a terra lhe seja leve estejam onde estiverem e Deus vos ilumine como a ajuda que nos deram… A todas obrigado!
Muito mais tenho para contar dos tempos difíceis das nossas gentes que com muito sacrifício sempre souberam honrar o nome da nossa terra o GOULINHO, mas por hoje fico por aqui…
Até à próxima!